Continuando porques lidos n'outro espaço...
Por que os dias amanhecem "azul claro" e terminam "frevo amargo"?
sexta-feira, setembro 25, 2009
domingo, setembro 13, 2009
"A polícia procura o suspeito cor padrão!"
(Documentário Zumbi Somos Nós)
O segurança negro Januário Alves de Santana foi confundido com um ladrão quando entrava em seu próprio carro, no estacionamento de um supermercado, em São Paulo.
“Ele disse: tá roubando carro aqui? E bateu. Eu falei: pelo amor de Deus, o carro é meu. Ele não queria saber não”, disse. Januário conta que as agressões só pararam com a chegada de um policial militar mas mesmo assim ele continuou a ser humilhado.
“Você tem cara de quem tem passagem. No mínimo umas três passagens você tem. Tua cara não nega, negão”, disse Januário.
O segurança negro Januário Alves de Santana foi confundido com um ladrão quando entrava em seu próprio carro, no estacionamento de um supermercado, em São Paulo.
Jornal Nacional, 19 de agosto de 2009
“Ele disse: tá roubando carro aqui? E bateu. Eu falei: pelo amor de Deus, o carro é meu. Ele não queria saber não”, disse. Januário conta que as agressões só pararam com a chegada de um policial militar mas mesmo assim ele continuou a ser humilhado.
“Você tem cara de quem tem passagem. No mínimo umas três passagens você tem. Tua cara não nega, negão”, disse Januário.
Cenas do cotidiano
1.
É horário de pico em Fortaleza, ou seja, o trânsito na 13 de maio e na Carapinima é intenso, para não dizer caótico. E é justamente no cruzamento dessas duas avenidas que assisto uma cena um tanto inusitada: um papai noel em pleno setembro e ainda mais vestindo verde, xingnado e mal dizendo uma senhora idosa, de cabelos curtos, bem magra, vestindo mini-saia e blusa de alcinha e com uma tatuagem nas costas, aquelas tatuagens não muito bem feitas (uso aqui dinovo o eufemismo: a tatuagem era horrorosa!)que com o passar do tempo ficam verdes.
Pensei ser uma intervenção urbana de algum grupo pós-moderno, mas não é só o cotidiano de Fortaleza.
2.
Num tem a senhora da postagem anterior, do texto do Mário Prata? Pois é! Acho que a encontrei no ônibus dias desses.
Ela subiu pela porta da frente, falando alto coisas que não consegui estabelecer uma correlação. Depois de prestar atenção consigo entender que ela está pedindo licença, para sentar-se, ao senhor que está sentado na cadeira prefencial. E eu achando que tava entendendo as coisas! Quando olho dinovo pra frente ela está em pé, em cima da cadeira, quase que pisanndo em cima do senhor, expiando a janela de um apartamento.
Depois dessa cena, ela olha para todos no ônibus e faz questão de dizer que vem de lá. Acho que é pra gente não achar ela uma grande fofoqueira. É nessa hora que ela solta a frase impactante, responsável por eu reconhece-la! - Policial civil não tem amigo!
Algumas paradas depois ela desce e se escuta o burburinho no ônibus. O senhor, que ela pertubou, conversando com o motorista: - É verdade! Ela é policial aposentada, ela me mostrou a carteira!
É! Ela é a delegada aposentada do Mário Prata!
É horário de pico em Fortaleza, ou seja, o trânsito na 13 de maio e na Carapinima é intenso, para não dizer caótico. E é justamente no cruzamento dessas duas avenidas que assisto uma cena um tanto inusitada: um papai noel em pleno setembro e ainda mais vestindo verde, xingnado e mal dizendo uma senhora idosa, de cabelos curtos, bem magra, vestindo mini-saia e blusa de alcinha e com uma tatuagem nas costas, aquelas tatuagens não muito bem feitas (uso aqui dinovo o eufemismo: a tatuagem era horrorosa!)que com o passar do tempo ficam verdes.
Pensei ser uma intervenção urbana de algum grupo pós-moderno, mas não é só o cotidiano de Fortaleza.
2.
Num tem a senhora da postagem anterior, do texto do Mário Prata? Pois é! Acho que a encontrei no ônibus dias desses.
Ela subiu pela porta da frente, falando alto coisas que não consegui estabelecer uma correlação. Depois de prestar atenção consigo entender que ela está pedindo licença, para sentar-se, ao senhor que está sentado na cadeira prefencial. E eu achando que tava entendendo as coisas! Quando olho dinovo pra frente ela está em pé, em cima da cadeira, quase que pisanndo em cima do senhor, expiando a janela de um apartamento.
Depois dessa cena, ela olha para todos no ônibus e faz questão de dizer que vem de lá. Acho que é pra gente não achar ela uma grande fofoqueira. É nessa hora que ela solta a frase impactante, responsável por eu reconhece-la! - Policial civil não tem amigo!
Algumas paradas depois ela desce e se escuta o burburinho no ônibus. O senhor, que ela pertubou, conversando com o motorista: - É verdade! Ela é policial aposentada, ela me mostrou a carteira!
É! Ela é a delegada aposentada do Mário Prata!
Gestantes, Idosos e Deficientes
Sábado, supermercado supercheio. Entro para comprar três latinhas de cerveja. Dab, alemã, sem álcool.
Vou para a "fila de até dez", que está emperrada porque a mocinha está fechando uma temporada e, para passar para a outra mocinha, tem de dar baixa não sei em quê. Olho as filas normais. Imensas. Gente com dois carrinhos. Alfaces convivendo com milhares de papéis higiênicos. Lá no fundo, uma fila. Só um velhinho.
E a placa, em cima: gestantes, idosos, deficientes físicos. Dou uma piscada para a mocinha, a mocinha faz um beiço de tudo bem e eu fico ali. Só que chega uma idosa. E gorda e mal-humorada. No que eu me viro para dar o lugar a ela, ela ataca:
— Está grávida, é?
Evidentemente que ela estava a falar comigo e eu não estava grávido. Não tinha nenhum sintoma, até então. Mas a idosa era agressiva e eu resolvi não ceder o lugar para ela. E senti uma certa solidariedade do velhinho que lutava para enxergar o dinheiro dentro da carteira. Fiquei na minha. Mas a idosa estava a fim de briga:
— Idoso, meu senhor?
Eu, ainda calmo:
— Não senhora. Envelhecente.
Ela ficou pensando na palavra, mas acho que não captou o neologismo.
Resolvi olhar as compras dela. Bananas. Milhares, milhões de bananas. E nada mais. E a revista Capricho.
E ela caprichou na terceira estocada:
— Por acaso o senhor é deficiente físico?
E olhou para as minhas pernas que estavam onde sempre estiveram, firmes. Fiz cara de triste:
— Sou. Infelizmente sou deficiente físico.
Ela se abalou:
— Desculpa, eu não havia percebido. É que sempre tem uns malandros, sabe? Uns espertinhos.
Eu fiquei quieto. Ela me cedeu a vez. Coloquei as cervejas em cima da mesa. Mas ela era curiosa:
— De nascença?
— É, sim senhora. Os dentes. Está vendo os meus dentes? São pra frente. Isso é uma deficiência física, não é?
Ela quase chamou o gerente:
— Engraçadinho...
E eu:
— E tem mais: meu fígado é deficiente físico. Está despedaçado. Meu pulmão, não é de hoje. Completamente deficiente. E se a senhora quiser, tenho uma unha encravada fisicamente deficiente.
— Não estou achando a menor graça!..
— E a vista? Está escrito na minha carteira de motorista: deficiente visual! Escuto pouco, minha senhora. Tenho essa deficiência também: auditiva.
— Você é um idiota. Vou falar com o gerente.
E partiu. Paguei a minha conta, estava saindo quando ela chega com o gerente. Ela já havia infernizado o rapazinho, que veio por educação, mesmo. O gerente:
— Por favor, o que está acontecendo?
Eu:
— É essa senhora, seu gerente. Além de idosa, deficiente física!
— Eu? Deficiente física?
— Claro, ou a senhora estava na fila porque é gestante? Que eu saiba, ninguém engravida com bananas. Ainda mais verdes e duras como essas!
Fomos todos para a delegacia. A mulher era delegada aposentada. Desacato à autoridade. Documentos. A mulher era mais jovem do que eu. Bingo! Tava era acabada mesmo! Porque, gestante, não era. Nem idosa.
Devia ser, como eu, deficiente física. E mental.
E o gerente, aproveitou:
— Tem só um detalhe, minha senhora. A senhora não pagou as bananas.
Te poupo do que ela disse para o rapazinho fazer com as bananas duras e verdes.
Mário Prata
Vou para a "fila de até dez", que está emperrada porque a mocinha está fechando uma temporada e, para passar para a outra mocinha, tem de dar baixa não sei em quê. Olho as filas normais. Imensas. Gente com dois carrinhos. Alfaces convivendo com milhares de papéis higiênicos. Lá no fundo, uma fila. Só um velhinho.
E a placa, em cima: gestantes, idosos, deficientes físicos. Dou uma piscada para a mocinha, a mocinha faz um beiço de tudo bem e eu fico ali. Só que chega uma idosa. E gorda e mal-humorada. No que eu me viro para dar o lugar a ela, ela ataca:
— Está grávida, é?
Evidentemente que ela estava a falar comigo e eu não estava grávido. Não tinha nenhum sintoma, até então. Mas a idosa era agressiva e eu resolvi não ceder o lugar para ela. E senti uma certa solidariedade do velhinho que lutava para enxergar o dinheiro dentro da carteira. Fiquei na minha. Mas a idosa estava a fim de briga:
— Idoso, meu senhor?
Eu, ainda calmo:
— Não senhora. Envelhecente.
Ela ficou pensando na palavra, mas acho que não captou o neologismo.
Resolvi olhar as compras dela. Bananas. Milhares, milhões de bananas. E nada mais. E a revista Capricho.
E ela caprichou na terceira estocada:
— Por acaso o senhor é deficiente físico?
E olhou para as minhas pernas que estavam onde sempre estiveram, firmes. Fiz cara de triste:
— Sou. Infelizmente sou deficiente físico.
Ela se abalou:
— Desculpa, eu não havia percebido. É que sempre tem uns malandros, sabe? Uns espertinhos.
Eu fiquei quieto. Ela me cedeu a vez. Coloquei as cervejas em cima da mesa. Mas ela era curiosa:
— De nascença?
— É, sim senhora. Os dentes. Está vendo os meus dentes? São pra frente. Isso é uma deficiência física, não é?
Ela quase chamou o gerente:
— Engraçadinho...
E eu:
— E tem mais: meu fígado é deficiente físico. Está despedaçado. Meu pulmão, não é de hoje. Completamente deficiente. E se a senhora quiser, tenho uma unha encravada fisicamente deficiente.
— Não estou achando a menor graça!..
— E a vista? Está escrito na minha carteira de motorista: deficiente visual! Escuto pouco, minha senhora. Tenho essa deficiência também: auditiva.
— Você é um idiota. Vou falar com o gerente.
E partiu. Paguei a minha conta, estava saindo quando ela chega com o gerente. Ela já havia infernizado o rapazinho, que veio por educação, mesmo. O gerente:
— Por favor, o que está acontecendo?
Eu:
— É essa senhora, seu gerente. Além de idosa, deficiente física!
— Eu? Deficiente física?
— Claro, ou a senhora estava na fila porque é gestante? Que eu saiba, ninguém engravida com bananas. Ainda mais verdes e duras como essas!
Fomos todos para a delegacia. A mulher era delegada aposentada. Desacato à autoridade. Documentos. A mulher era mais jovem do que eu. Bingo! Tava era acabada mesmo! Porque, gestante, não era. Nem idosa.
Devia ser, como eu, deficiente física. E mental.
E o gerente, aproveitou:
— Tem só um detalhe, minha senhora. A senhora não pagou as bananas.
Te poupo do que ela disse para o rapazinho fazer com as bananas duras e verdes.
Mário Prata
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