quinta-feira, julho 06, 2006




Vem! Venda meus olhos
Envolve-me por inteira
Acalma meu coração
Sussura sentimentos nos meus ouvidos...

Estou aqui de olhos fechados
a tua espera.
Coração inquieto
Cachinhos no mundo.

Sentidos despertados
O corpo sensível a qualquer toque
Na expectativa...

Surges de mansinho
Sinto teu cheiro
E provo teu gosto...
Num beijo
Uma tarde no meio da semana, daquelas comuns, sem nada de espetacular a não ser por aquele pôr-do-sol... O sol já estava atrevido há um tempo, vem pondo-se vermelho, intenso, desenhando maravilhosamente os céus da cidade.

E ela? Ela está lá, com seu vestido azul, seus cachinhos ao vento, sentada serenamente sobre as rochas aproveitando cada segundo daquele pôr-do-sol avermelhado.

O vento, seu amante, acaricia-lhe o rosto e sussurra segredos inconfessáveis nos seus ouvidos. O sorriso se abre e permanece, como que denunciando a felicidade que vive a menina. Sua mente vai povoando-se de sonhos, desejos, devaneios... Ela sorri ainda mais e torna o brilho de seus olhos em espelhos d’alma...

O sorriso nos olhos. O corpo daquela negra menina gritava um silêncio contagiante. Era a vida dialogando com deus, o mundo todo. As pessoas ali eram estrelas, mas não ofuscavam. Reluziam uma forte cor rubra, de desejo. Mas os desejos não são codificáveis, vivem no velado da razão que pouco se ocupou deles. Ahhh... estica os braços e inspira todo o ar salgado que a faz...

Lacrimejar...lágrimas de uma saudade gostosa, daquela pessoa sem rosto ou daquele momento que deixou rastros...não sabia distinguir, só sabia sentir!Sentia não só o Vento..não só as pessoas..mas o lugar...como era extenso o horizonte, como se sentiu pequena diante daquele Mar que batia nas pedras, que batia nela, que batia...

As ondas clamavam dentro das pálpebras provocando gotas de sonhos... Os braços se abrem num impulso de agarrar as nuvens, como se aquele sol vermelho fosse o mesmo coração que pulsava no seu colo... Colo que abrigava tudo e todos, uma trilha de formigas sedentas, que encontram lá a sua casa... Aqueles braços apertados davam o conforto que mais nada conseguiria proporcionar, aqueles beijos estalados como caramelo faziam nascer os sorrisos teimosos... Era aquele ser humano vivaz como os últimos raios que se despediam toda a tarde mas que prometiam voltar no amanhecer seguinte, que mostrava algum sentido ao ar...